A força, a arte, a manha, a fortaleza;
O tempo acaba a fama e a riqueza,
O tempo o mesmo tempo de si chora;
O tempo busca e acaba o onde mora
Qualquer ingratidão, qualquer dureza;
Mas não pode acabar minha tristeza,
Enquanto não quiserdes vós, Senhora.
O tempo claro dia torna escuro,
E o mais ledo prazer em choro triste;
O tempo, a tempestade em grão bonança.
Mas de abrandar o tempo estou seguro
O peito de diamante, onde consiste
A pena e o prazer desta esperança.
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-Que esperais, esperança? -Desespero.
-Quem disso a causa foi? -Uma mudança.
-Vós, vida, como estais? -Sem esperança.
-Que dizeis, coração? -Que muito quero.
-que sentis, alma, vós? -Que amor é fero.
-E, enfim, como viveis? -Sem confiança.
-Quem vos sustenta, logo? -Uma lembrança.
-E só nela esperais? -Só nela espero.
-Em que podeis parar? -Nisso em que estou.
-E em que estais vós? -Em acabar a vida.
-E tende-lo por bem?- -Amor o quer.
-Quem vos obriga assim? -Saber quem sou.
-E quem sois? -Quem de todo está rendida.
-A quem rendida estais? -A um só querer.
Luís de Camões (1524? -1580)
* In LIVRO DAS VIRTUDES - uma antologia de William Bennett - no tópico
Perseverança.
Para complementar o vídeo com poema de Camões cantado pela inesquecível
Amália Rodrigues.
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